Patriota às avessas

Era um rapaz obstinado, patriota ao extremo. Aliás, era um extremista ao extremo, de carteirinha e de arma em punho. Vinha de uma família que habitava a Corte do lugar, sempre ocupando importantes cargos nos Conselhos Legislativos, tendo, no paizão, um exemplo a ser seguido, embora esse “exemplo” não fosse lá seguido por muitos, que consideravam o “patriarca” um “sugador” voraz dos recursos públicos, pois, nas Sessões Legislativas, cochilava o tempo todo, roncando de boca aberta, e nunca apresentando nada de real valor, só apoiando projetos contra o povo sofrido; enfim, um verdadeiro “patriota” surfando nas “ondas” da ociosidade.
Besteira! Iniciei este artigo “navegando” na ficção, tentando esconder, tergiversar verdades que batem, como um furacão , na nossa cara, todos os dias, transmitidas nas ondas do rádio, nos jornais, nas redes sociais, nos cochichos das vizinhas ou nos ouvidos atentos do transeunte comum.
Então, nada de ficção, até porque há seres tão ínfimos, tão medíocres que não merecem a singular condição de personagens habitando o mágico reino da literatura, pois a Arte Literária, mesmo sendo infinitamente aberta e democrática, às vezes vira as costas para o “circo dos horrores” da hipocrisia.
O rapaz real, não personagem, que ostenta sempre uma expressão raivosa, amiga íntima da “dieta do limão, sendo “patriota” convicto – não me permito, sob pena de falsear a verdade, grafar o “patriota” sem as “aspas” da ironia, à lá Machado – que puxa e que ostenta arma para demonstrar força e coragem na defesa sua “amada” pátria, foge, como um coelho assustado, para o colo e para os braços do autoproclamado “senhor do mundo”, que governa um país achando que este é o próprio mundo.
O dito rapaz deixa tudo para trás: milhares de votos, cadeira privilegiada no Parlamento, benesses mil, fama de “brabo”, abandona seu habitat, desenterra seu umbigo e o leva como troféu para o novo Tio Sam, loiro e patenteado como o “Rei Midas” contemporâneo.
Eduardo, um dos guerreiros da tribo dos “Bolsonaristas”, está nos EUA não para honrar o verdadeiro significado do termo “patriota”, mas para desonrá-lo, para execrá-lo, pois patriota é aquele que ama e venera seu país, independentemente de como ele está sendo governado. Mas, para gente como ele, só há país bom se for governado pelo “time da casa”, “dentro das quatro linhas”, ou seja, pelo papai.
E, em vez de ser patriota de verdade, achando que o outro “papai”, o Trump, pode tudo, conspira, descarada e ilegalmente, contra o Brasil e contra suas instituições, tudo para livrar, da justa punição, uma súcia de vândalos que tocaram o terror na Capital do pais no dia 08 de janeiro de 2023. Mas, na verdade, o que quer mesmo é livrar o papai para que o clã possa voltar ao poder.
Que fique por lá por tempo indeterminado!
E, por aqui, ficamos com o “Ainda estou aqui”, este, sim, um verdadeiro patriota, sem aspas, filme vencedor mundo afora, que, por meio da Arte Cinematográfica, expõe verdadeiros protagonistas do amor pelo Brasil, expondo a persistência e a força da luta por Justiça e por Democracia, que, outrora, assim como ocorre ainda hoje, tentaram conspirar contra, perseguindo e torturando patriotas para inflar um regime opressor e de exceção, hoje tentando se perpetuar e sendo bancado por milhões de seguidores, cegos e vulneráveis pela pouca ou nenhuma visibilidade politico-ideológica, que teimam em seguir um líder capenga e sem verniz, inclusive inelegível pelo conjunto da obra.
Fiquemos, então, com o “Ainda estou aqui”, vencedor e pró-Brasil, e que o Donald Tio Sam fique assistindo, sonolento e tedioso, o “Agora estou aqui, chefe”, película sem graça e, certamente, candidata ao “pior filme do ano”!